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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A falácia do voto limpo


por Carlos Castilho | Observatório da Imprensa


Durante a campanha para as eleições municipais de domingo (7/10) fomos bombardeados pela propaganda do voto limpo promovida pela Justiça Eleitoral, mas nem os magistrados e nem a imprensa mostraram quem eram os candidatos “sujos” , ao mesmo tempo em que jogavam toda a responsabilidade pela escolha para o eleitor.

Assim é fácil lavar as mãos e depois dizer que a culpa pela eleição de políticos envolvidos em corrupção, narcotráfico, milícias e crime organizado cabe ao pobre do cidadão que teve que fazer uma escolha sem ter informação para tanto.

A Lei da Ficha Limpa foi uma iniciativa do eleitorado que obrigou os poderes constituídos, em especial o Judiciário, a admitir a existência de políticos e candidatos a políticos fichados ou sob suspeita, algo que estava na cara de todo mundo havia anos. Aprovada a lei, caberia ao Legislativo e ao Judiciário promover a filtragem de candidatos sob a vigilância de imprensa, que recebeu dos eleitores um mandato indireto para fiscalizar o cumprimento da Lei da Ficha Limpa.

Acontece que as câmaras de vereadores, assembleias estaduais, Câmara dos Deputados e Senado agiram corporativamente examinando apenas os casos óbvios de corrupção, ou então atuaram movidas por interesses partidários. A burocracia do TSE (Tribunal superior Eleitoral) jogou para depois das eleições a decisão sobre 2.152 dos 2.830 processos envolvendo candidatos sob suspeita de ser ficha suja. E neste total ainda não estão incluídos os casos que virão dos tribunais regionais, o que pode aumentar em mais 500 processos, no mínimo, o número de casos à espera de julgamento.

A Justiça Eleitoral tentou “limpar a sua ficha” com uma vistosa propaganda na qual jogava sobre o eleitor toda a responsabilidade pela eventual eleição de candidatos ficha suja. Mas o grande problema virá agora, porque a complicação jurídica em função de impugnações de candidatos eleitos vai provocar muita polemica e aumentar a confusão na cabeça do eleitor. Muita gente verá seu voto jogado no lixo porque a Justiça não decidiu a tempo se o candidato era ou não digno do cargo que disputava.

E a imprensa ficou esperando que o Judiciário e o Legislativo tomassem alguma iniciativa para publicar algo. Preferiu a zona de conforto a ter que entrar na complexa discussão sobre a culpabilidade ou não de candidatos sob suspeita. A justificativa foi a de que a imprensa não pode julgar candidaturas, o que é verdadeiro, mas poderia ter investigado denúncias e casos notórios de corrupção com o mesmo empenho com que se jogou no caso do “mensalão”.

Reportagens investigativas não são sinônimo de prejulgamento, mas podem ser uma ferramenta importante para o eleitor tomar a sua decisão. Como nem a imprensa e nem o Judiciário deram ao eleitor elementos para decidir sobre quem não tem ficha limpa, a falta de informação acabou anulando o efeito depurador esperado da campanha pelo voto limpo.

Ficou para as próximas eleições, caso até lá os cidadãos consigam arrancar as informações necessárias para tomar decisões que respondam ao seu desejo de moralidade e eficiência por parte dos poderes instituídos.

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